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Em contato direto com Lygia Clark

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Lygia Clark com a máscara “Abismo” para mostra em 1986


Por Marcelo Rezende | Para o Valor, de São Paulo

No espaço da exposição “Lygia Clark: Uma Retrospectiva”, no Itaú Cultural, em São Paulo, são apresentadas 145 obras, entre objetos, instalações e propostas inéditas. A lista cresce com um ciclo de filmes, seminário, aplicativo para “tablets” e museu virtual, que dão conta dos inúmeros e potentes efeitos provocados pela artista mineira, morta em 1988, aos 68 anos. E isso não é tudo. O que os curadores Paulo Sérgio Duarte e Felipe Scovino oferecem a partir deste sábado é uma Lygia Clark em sua potência total, ao lado da sensibilidade, imaginação e disponibilidade do espectador. Uma Lygia diante do desafio tempo.

Desde o início deste século, com a sedimentação dos processos de globalização econômica, reordenação das esferas de poder no mundo e a febre das feiras de arte, Lygia Clark (ao lado de Hélio Oiticica e Lygia Pape, companheiros do neoconcretismo carioca do final dos anos 1950) tem se tornado uma espécie de “blue chip” da arte brasileira entre colecionadores.

A expressão, vinda do mercado de ações, traduz a ideia de um “valor seguro”; no caso de Lygia, sustentado por alguns fatos: o crescimento das mostras internacionais da artista – o MoMA, em Nova York, receberá uma retrospectiva de Lygia Clark em 2014 – e seus recentes resultados de compra e venda. Em 2011, uma peça criada por Lygia em 1964 (”Abrigo Poético 3″) foi vendida na feira suíça Art Basel pelo preço recorde de €1,8 milhão.

Mas Lygia, claro, não se resume a uma análise financeira, e essa tem sido toda uma questão. “Essa retrospectiva apresentada agora ajuda a pensar o lugar da obra de Lygia Clark no Brasil e no mundo”, conta Felipe Scovino.

Refletir sobre a posição de Lygia hoje significa não deixá-la prisioneira de seu sucesso crítico e institucional, mas conceder a seu pensamento um espaço de respiro: “A retrospectiva não traz um recorte cronológico das obras, procurando evidenciar a maneira como ela lida com os diferentes suportes e possibilidades da arte, indo além da construção de um objeto. O público deve descobrir in loco novas possibilidades de leituras sobre ela”, afirma Scovino.

O público é uma das chaves para o entendimento de Lygia Clark, já que muitos dos trabalhos se opõem a dois dos maiores tabus dos museus: a proibição de que as obras possam ser manipuladas e a separação entre visitantes, que impede o compartilhamento de sensações. Nas propostas de Lygia, a obra de arte pode funcionar como intermediária para a ação entre pessoas.

Um exemplo são as instalações “Campo de Minas” e “Cintos-Diálogos”, imaginadas no período 1967/1968 e apresentadas no Itaú Cultural. Na primeira (exibida uma única vez, no Rio de Janeiro), os visitantes percorrem um tablado com sapatos magnetizados. Na segunda, uma instalação inédita, as pessoas recebem cinturões com ímãs, o que as leva a uma relação de atração e repulsão.

Outra proposta inédita é a instalação “O Homem no Centro dos Acontecimentos”, também do fim dos anos 1960 – os curadores usaram textos de Lygia, nos quais ela havia deixado instruções sobre como montar as obras. A obra traz projeções simultâneas em quatro paredes, resultado da filmagem de um percurso pelas ruas com uma câmera fixada sobre um capacete.

Essas experiências, ao lado de suas pinturas e de seus famosos objetos esculturais, os “Bichos”, ilustram a definição de Lygia pelo crítico Mário Pedrosa (1900-1981): “a entrada de Lygia Clark na arena da arte, onde a distância psíquica entre a arte e o espectador foi suprimida, não é de agora nem veio de supetão. Surgiu ao longo de todo um processo”.

Lygia começa com telas, chega a esculturas que podem ser tocadas pelo público para, em seguida, caminhar em direção ao contato com os visitantes, que deixam de ser espectadores e passam para uma posição ativa.

Para a designer Alessandra Clark, neta da artista e diretora da Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark, a missão para essa retrospectiva é mostrar ao público “a obra como ela é”. “Apenas dessa maneira nos aproximamos do que Lygia pensava e tinha imaginado para suas criações.”

Essa necessidade de uma maior compreensão dos processos criativos de Lygia Clark é o que levou ao lançamento de um aplicativo digital para dispositivos móveis, que será distribuído gratuitamente. “No ‘Livro Obra’ (1983), que compõe o material do aplicativo, consegue-se um resumo de Lygia a partir do que ela pensava, por meio de seus textos. Com eles, é possível se relacionar com as obras mesmo a distância”, diz Alessandra.

Participação e relação parecem mesmo resumir Lygia Clark. Durante os anos 1990, com a aparição de uma geração de novos artistas dispostos a assumir a participação dos espectadores em exposições e bienais (a geração da “arte relacional”), Lygia passou a ser intensamente “redescoberta”. Uma das consequências diz respeito a um possível rapto do discurso crítico: Lygia corre o risco de ser pensada como precursora, seguidora ou apenas parte de movimentos artísticos iniciados na Europa e Estados Unidos, o que resulta em uma visão limitada de sua importância.

Contra essa ameaça, ela pode e deve ser pensada em toda sua originalidade, e essa é a leitura promovida pelos curadores Paulo Sérgio Duarte e Felipe Scovino.

“Hoje, o que se conhece representa cerca de 2/3 da produção de Lygia. Agora ela é uma referência para artistas contemporâneos, e foi o interesse e a atuação desses artistas que provocaram as instituições. Mas há ainda muito para pesquisar, trabalhar e entender”, conta Alessandra.

“Há as pesquisas dela com a arquitetura, entre outras. Não há um limite. Mesmo a participação do espectador é um meio, e não um fim”, afirma Scovino.

“Lygia Clark: Uma Retrospectiva”

Itaú Cultural (Av. Paulista, 149), de 1º de setembro a 11 de novembro, entrada gratuita

Marcelo Rezende foi cocurador dos projetos “Comunismo da Forma” (São Paulo, 2007; Toronto, 2009) e “À la Chinoise” (Hong Kong, 2007), e curador das mostras “Ver o Tibet” (Rio, 2010) e “Cinema Veloz e Volante (Salvador, 2012). Editor da publicação “28b”, uma das plataformas da 28ª Bienal de São Paulo (2008)


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